domingo, 6 de março de 2016

Açougueiro de Itaperuna está sumido desde o último dia 29 de novembro; por dia, 17 pessoas desaparecem no Estado do Rio

Um levantamento feito pelo EXTRA mostra ainda que neste ano, até o último dia 3, já foram registrados 1.062 casos no estado. 

Rafael Levindo Ricardo
A mulher do açougueiro Rafael Levindo Ricardo, de 27 anos, está desesperada tentando encontrá-lo. No último dia 29 de novembro ele saiu de casa para buscá-la no trabalho, num posto de combustíveis de Itaperuna, no Noroeste Fluminense, mas nunca chegou.

— Eu trabalhava num posto de gasolina no turno da noite, e estava chovendo muito. Ele me levou de carro e ficou de me buscar às 2h da manhã. Às 22h liguei e conversei com ele, e a mãe dele falou com ele às 22h15. Perto das 2h da manhã, quando deveria me pegar, ele não chegou. Esperei e acabei indo para casa a pé. Chegando lá estava tudo trancado e o carro também não estava — relata Luciana Pereira, de 28 anos.

Rafael estaria dirigindo o carro, um Fiat UNO, placa LLG 9237, quando sumiu. O caso foi registrado na 143ª DP (Itaperuna), mas a polícia não conseguiu nenhuma pista de Rafael. Segundo a família, há um ano ele teve um surto enquanto trabalhava embarcado e começou um tratamento psicológico. Depois disso, ele melhorou e começou a trabalhar como açougueiro. A esposa acredita que ele pode ter tido algum problema psicológico, já que estava tomando medicamentos controlados.

— É uma agonia que não passa. Minha filha de 9 anos não está mais comendo, chama pelo pai e não sei mais o que falar para ela. Minha sogra também está muito abalada com tudo isso — disse Luciana.



                    Rafael desapareceu em 29 de fevereiro de 2016 Foto: Divulgação


Rian Brito
Foram nove dias de angústia para parentes de Rian Brito, de 25 anos, neto do humorista Chico Anysio. O rapaz sumiu no último dia 23 e seu corpo foi encontrado na última quinta-feira. O drama se repete em milhares de famílias cujos entes queridos desapareceram. No ano passado, 6.348 casos foram registrados nas delegacias de todo estado, uma média de 17 por dia, de acordo com números do Instituto de Segurança Pública (ISP).

Larissa Vitorino da Silva, de 18 anos, que desapareceu em 27 de janeiro. Ela foi vista pela última vez quando saiu de casa, em Realengo, dizendo que iria ao shopping de Bangu,na Zona Oeste do Rio. A família nunca mais teve notícias.

— Ela saiu de casa por volta das 10h para se matricular em um curso supletivo, mas o local estava fechado. Ela ligou para o pai para avisar que iria até o Shopping Bangu. Depois, nunca mais ninguém viu. Era a primeira vez que ela saia sozinha. Não temos ideia do que pode ter acontecido — lamenta o avô da jovem, o repórter fotográfico, Francisco Sales, de 63 anos.




Apesar do alto número de ocorrências, a Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) da Polícia Civil, especializada em investigar os casos do município do Rio, consegue resolver uma média de 87% dos casos. Dos 2.491 episódios apurados pela unidade no ano passado, em 2.192 os desaparecidos foram encontrados. A delegada Ellen Souto, titular da DDPA, frisa a importância da ajuda da população:

— A pessoa desaparecida locomove-se com muita rapidez, por isso a sociedade é um grande parceiro nesse tipo de investigação. A divulgação da imagem do desaparecido nas redes sociais é uma ferramenta de trabalho espetacular. Temos um Facebook da delegacia, onde compartilhamos os cartazes de desaparecidos.

Alexandre da Silva
Em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, a família luta para encontrar o auxiliar administrativo Alexandre da Silva, de 36 anos. Ele sumiu na última segunda-feira, dia 29, pela manhã quando saiu de casa, de carro, para ir até a casa da mãe no mesmo bairro.

— Ele estava no carro, um Fiat punto cinza escuro, e não apareceu aqui. Estamos desesperados e minha avó está bastante preocupada porque não tivemos pista nenhuma nesse tempo todo— lamentou a sobrinha Michaela Carvalho, de 19 anos.

Segundo a família, Alexandre é casado e gosta de sair, mas nunca tinha desaparecido. O caso foi registrado na 74ª DP (Alcântara). Segundo a família, Alexandre está desempregado há cinco meses e, anteriormente, trabalhava num hospital como maqueiro. Ele não tem vícios ou doenças mentais, e a família não sabe o que pode ter levado ao desaparecimento dele.

— Estamos desesperados porque já fomos no Instituto Médico Legal, hospitais, delegacias e até em favelas procurar ele — disse a sobrinha Michaela.

Alexandre desapareceu em 29 de fevereiro de 2016
Alexandre desapareceu em 29 de fevereiro de 2016 Foto: Divulgação

Eduardo Guimarães Athayde
Eduardo Guimarães Athayde, de 33 anos, desapareceu após deixar a casa da família, em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, em 27 de novembro do ano passado. Autista e diabético, o rapaz não estava portando documentos de identificação quando foi visto pela última vez. O pai dele, Cláudio Alves Atayde, de 70 anos, diz que o filho já havia "fugido" outras vezes, mas sempre era encontrado. Por isso, ele ainda nutre a esperança de encontrá-lo.

— Nós registramos um Boletim de Ocorrência pelo desaparecimento no dia 28 de novembro do ano passado, um dia depois dele sair de casa. Procuramos pessoalmente por ele em hospitais, no IML (Instituto Médico Legal) e em vários outros lugares. Mas, até agora, nada. Ele já tinha fugido de casa outras três vezes e foi encontrado pela polícia. Ele tinha o hábito de ir até a casa da madrinha, no Flamengo (na Zona Sul do Rio), mas como as linhas de ônibus mudaram, ele pode ter se perdido porque os conhecia pela cor. Ele fazia tratamento psiquiátrico, é autista, e precisa ser medicado. Se ele não for ajudado, vai ficar como um zumbi pela rua. Ele mal sabe falar. Não ia saber dizer onde morava ou pedir ajuda. Eu vou ser sincero, acredito muito em Deus, mas, como já faz três meses, a esperança começa a ir embora. Eu choro muito e oro por ele — diz o idoso.

Ainda segundo o pai do jovem desaparecido, a família não tem como bancar pelas buscas pelo filho e, por isso, depende apenas do trabalho da policia.

— A gente é pobre. Não temos dinheiro para pagar por cartazes, anúncios de "procura-se" em jornais e alerta em rádio. Eu quero encontrar meu filho. Se ele tiver morto, quero enterrá-lo. Se ele estiver vivo, preciso ajudá-lo a se tratar. É uma dor para toda a família. A gente vive de expectativa — diz.

Eduardo desapareceu em 28 de novembro de 2015
Eduardo desapareceu em 28 de novembro de 2015 Foto: Divulgação

Larissa Vitorino Silva
Moradora de Realengo, na Zona Oeste, Larissa Vitorino da Silva, de 18 anos, desapareceu no dia 27 de janeiro deste ano. Ela foi vista pela última vez por seus parentes quando saiu de casa. A estudante contou que iria até o shopping de Bangu,na Zona Oeste do Rio, no entanto, nunca mais voltou. Segundo o avô dela, o repórter fotográfico, Francisco Sales, de 63 anos, a garota sumiu na primeira vez em que saiu sozinha.

— Ela saiu de casa por votla das 10h para ir se matricular em um curso supletivo, mas o local estava fechado. Ela ligou para o pai para avisar que iria até o Shopping Bangu. Depois, nunca mais ninguém viu. Essa era a primeira vez que ela saía sozinha. Ela estava acostumada a andar comigo, com o pai e o noivo. A gente não tem ideia do que pode ter acontecido com ela. Já procuramos em todos os lugares.

De acordo com Francisco, no mesmo dia do desaparecimento, eles registraram o desaparecimento de Larissa na 34ª DP (Bangu).

— Já espalhamos cartazes, divulgamos (o desaparecimento) na internet, procuramos em hospital, nas regiões... Queremos encontrá-la. Ela era uma menina evangélica, de bem. Tenho fé que vamos achá-la com vida.

Larissa desapareceu em 27 de janeiro de 2016
Larissa desapareceu em 27 de janeiro de 2016 Foto: Divulgação

Polyanna Ketelin Silveira Ribeiro
No dia 2 de abril, uma manifestação na Praia de Icaraí, em Niterói, vai marcar o primeiro ano desde o desaparecimento de Polyanna Ketelin Silveira Ribeiro. A menina, que sumiu aos 10 anos, morava na beira da Lagoa de Piratininga, no mesmo município, quando saiu para comprar fósforos e uma mariola e não voltou mais. O mais intrigante no caso é que a criança desapareceu enquanto percorria uma distância de menos de 100 metros entre a casa onde vivia com a família e a quitanda.
— Desde desse dia eu não tenho mas vida. Vivo esperando o momento de abraçar minha filha novamente. Polyanna é uma menina meiga, doce, que não tinha WhatsApp e nem Facebook. Ela hoje está com 11 anos. Peço, em nome de Jesus, que se alguém tiver noticias verdadeiras do local onde minha filha se encontra ou souber o que aconteceu entre em contato comigo ou com a polícia que cuida do caso. Se não quiser se identificar, ligue pra mim ou pro disque-denúncia — conta Marcele Ribeiro, mãe da menina.
Uma semana após o sumiço da menina, os investigadores acharam roupas queimadas no quintal. As peças passaram por perícia, mas não havia sangue.As investigações ficaram sob responsabilidade da Divisão de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo, mas Polyanna nunca foi encontrada. No dia que o desaparecimento completa um ano, a família planeja fazer uma grande manifestação na Praia de Icaraí, em Niterói.

Polyanna desapareceu em 2 de abril de 2015
Polyanna desapareceu em 2 de abril de 2015 Foto: Divulgação


Fábio Augusto Campos de Morais
Na última segunda-feira, Fábio Augusto Campos de Morais, de 23 anos, saiu para comprar cigarros no bairro do Andaraí, Zona Norte do Rio, e nunca mais voltou. O rapaz trabalha como entregador de tintas e mora com a mãe e a avó. Segundo relatos da família, Fábio vem lutando contra um quadro de depressão.
— Temos medo de que ele tenha tido um surto e decidiu fugir. Não sabemos também se ele estava envolvido com drogas — comenta João Diogo, primo de Fábio.
O caso está registrado na 20ª Delegacia de Polícia Civil (Vila Isabel) e buscas foram feitas durante a semana. Fábio teria sido pela última vez na terça-feira, na Mangueira.

Fábio Augusto desapareceu em 29 de fevereiro
Fábio Augusto desapareceu em 29 de fevereiro Foto: Divulgação


*Participaram da reportagem Diana Figueiredo, Fabrício Provenzano, Pedro Willmersdorf e Thaís Sousa.
Fonte: Extra