sexta-feira, 13 de março de 2015

Crise financeira do país atinge as prostitutas do interior; Bruna, de 27 anos, que cobra R$ 100 por uma hora afirma que não está fácil

O que mais se escuta em Macaé, nestes tempos de crise, é que os macaenses apertaram o cinto e estão cortando todos os supérfluos. O impacto da retração econômica chegou às ruas. Em todos os sentidos. Se muitos trabalhadores deixaram as mais diversas regiões do país em busca das oportunidades surgidas na cidade considerada a‘capital do petróleo’, o mesmo se pode dizer das garotas de programa que deixaram Copacabana, no Rio, de olho no alto poder aquisitivo da população masculina em Macaé.

Garotas de programa que trocaram Copacabana por Macaé em busca de clientes com os bolsos cheios há três anos fazem promoções atualmente.


Foto:  Ernesto Carriço / Agência O Dia

“Está ruim de afrouxar esse cinto. Ninguém aqui abre mais o bolso para nada. A crise está braba. Há dois, três anos a gente chegava a fazer 15 programas por dia, cobrando em média R$ 120 em cada um. Agora só contamos com um programinha ou outro, às vezes não rola nenhum. Mesmo com promoção”, conta Bruna, de 27 anos, que agora cobra R$ 100 por uma hora de prazer.

Colega de Bruna, Fernanda lembra com saudade das festinhas bancadas pelo “turma do petróleo” que trabalhava em alto-mar. Assim que voltavam ao continente, patrocinavam festas e mais festas que duravam dias inteiros. O eldorado do petróleo era também o da prostituição.

“Era para ter resolvido a nossa vida. Tínhamos noite inteiras de rainha aqui em Macaé. Muito melhor do que no Rio de Janeiro. Nem se comparava. A galera tinha grana mesmo. Esbanjava em tudo. Foram as melhores festas da minha vida. Esse oásis durou até outubro do ano passado”, acrescentou Bruna.

OÁSIS NEGROS, RIO DAS OSTRAS E MACAÉ AMARGAM DIAS DE DECADÊNCIA

Os anos dourados sonhados pelos moradores do Norte Fluminense deram lugar a tempos de incerteza e falta de perspectiva. A situação em Macaé, apontada há alguns anos como Eldorado do petróleo, é desesperadora. O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico, Vandré Guimarães, admite a situação tensa.

“A crise não é coisa nossa. É mundial. O preço do barril caiu pela metade e isso afeta todas as cidades que vivem de royalties no mundo todo. No Brasil fica pior devido aos escândalos recentes, mas o problema é o preço do barril, que interfere na economia da cidade, do petroleiro ao pipoqueiro”, justifica Vandré.

A crise em Macaé salta aos olhos. Numa simples caminhada pela Avenida Rui Barbosa, a principal da cidade, dezenas de lojas estão fechadas ou prestes a fechar. As outras, abertas, estão às moscas.

“O movimento em dezembro foi 20% pior do que em 2013. E o de agora já caiu mais 20% em relação a dezembro. Há um clima de insegurança. Ninguém está comprando nada com medo do que pode acontecer. Felizmente não demitimos ninguém, mas já reduzimos muito as compras”, contou Wallace Araújo, gerente das Casas Lealtex, uma das maiores do Calçadão.

Mesma sorte não tiveram quatro dos 19 funcionários da papelaria VM, que foram dispensados esta semana. Segundo o proprietário, Mário Loureiro, com queda de 35% nas vendas, novos cortes podem acontecer ainda este mês.

“Tive prejuízo de R$ 750 mil. Coloquei o material escolar à disposição das distribuidoras. Não tenho como pagar a ninguém sem comprador na loja. Se quiserem, podem vir aqui pegar tudo de volta”, disse Mário, se referindo aos produtos à venda.

No tradicional Mercado de Peixe, o cenário é desolador. Uma das donas de barraca, Dona Marilene, como é conhecida, reclama de queda das vendas em aproximadamente 50%. “Não vendo mais nada para hotéis e restaurantes. E gente que vinha aqui comprar camarão sem nem olhar o preço, não vem mais. Tá complicado para trabalhar”, lamenta.

Vizinha a Macaé, Rio das Ostras vive uma situação semelhante. Em Costazul, que costumava ficar lotada durante o verão, a maioria dos quiosques está fechada. As casas à beira-mar, alugadas por temporada, estão vazias, bem como hotéis e pousadas.

“Tivemos o pior verão dos últimos dez anos Em vez de turistas, vieram ‘duristas’. Todo mundo duro. Teve gente que sentou no quiosque, trouxe isopor com cerveja e quentinha com comida. Não consumiu um real” contou Jorge Armando, o Doda, há 23 anos em Costazul.

O casal Débora Siqueira e Cleber de Araújo sabe bem o que é isso. Ela, como funcionária da Petrobras. Ele como recém-demitido da prestadora de serviços Fluke Engenharia. “Fomos demitidos entre mais de 400. A empresa em Rio das Ostras fechou. As pessoas vinham para cá com a ilusão de serem petroleiros. Viemos atrás de tudo o que prometiam. Agora vivemos a angústia, o ócio, a incerteza com o futuro”, se desespera Débora.

Na rua onde há cinco anos não havia sequer uma quitinete para alugar, sobram casas e apartamentos vazios com placas de ‘vende-se’ na porta. Em meio aos problemas, ainda sobra bom humor para Débora e Cléber contarem como tudo mudou em Rio das Ostras. “Já tivemos Carnaval aqui com Claudia Leitte, Jota Quest, Ivete Sangalo, Thiaguinho e Luan Santana. Este ano a única atração foi uma pelada com atores de Malhação. Entendeu a crise?”, comparou Débora.

Participaram desta reportagem Caio Barbosa, João Antônio Barros, Leandro Resende, Luísa Brasil e Nonato Viegas

Fonte: O Dia