Mais de 30 horas. Esse foi o tempo que familiares de um jovem de 21 anos, que teve morte cerebral, esperaram para doar os órgãos e realizar o enterro ontem. Mesmo em um momento de grande dor, a família autorizou a doação de todos os órgãos de Iuri Garcia Cortes Marinho Cruz, mas, devido à demora, apenas os rins puderem ser doados. Iuri morreu após capotar de carro na RJ 116, que liga Laje do Muriaé a Comendador Venâncio, distrito de Itaperuna, no Noroeste Fluminense, na madrugada do último sábado.
A tia de Iuri, Iara Ferreira, de 65 anos, disse que o sobrinho chegou ao Hospital São José do Avaí (HSJA), em Itaperuna, na madrugada de sábado já em estado grave. “Ele teve uma assistência médica muito grande, mas infelizmente a batida foi no crânio e o estado era gravíssimo”, relatou. Ainda segundo Iara, no domingo (14) os familiares foram informados pela equipe do hospital que os primeiros testes já apontavam a morte cerebral.
A mulher de Iuri, Daniela Kronemberger, de 28 anos, disse que na segunda-feira (15) pela manhã foi realizado o exame de arteriografia, que confirmou a morte encefálica. “A psicóloga do hospital veio conversar com a família, que assinou o termo autorizando a doação de todos os órgãos”, informou. Depois disso, os familiares foram comunicados que os procedimentos para a doação iriam começar dentro de uma hora, mas acabaram esperando mais de 30.
Segundo Daniela, os médicos informaram que apenas a equipe do Programa Estadual de Transplantes (PET) poderia realizar os procedimentos, e eles já teriam sido notificados. Já Iara lembra que, questionados sobre a demora, os médicos respondiam sempre que aguardavam a equipe do Rio. “Todos os médicos diziam a mesma coisa, que aguardavam e que já haviam feito o pedido novamente. A gente notava constrangimento quando vinham nos comunicar, porque eles também estavam sendo usados. Esse é o termo”, desabafou.
Segundo Daniela, os médicos informaram que apenas a equipe do Programa Estadual de Transplantes (PET) poderia realizar os procedimentos, e eles já teriam sido notificados. Já Iara lembra que, questionados sobre a demora, os médicos respondiam sempre que aguardavam a equipe do Rio. “Todos os médicos diziam a mesma coisa, que aguardavam e que já haviam feito o pedido novamente. A gente notava constrangimento quando vinham nos comunicar, porque eles também estavam sendo usados. Esse é o termo”, desabafou.
De acordo com os familiares, a equipe só chegou ao HSJA na noite de terça-feira, após iniciarem uma manifestação nas redes sociais. Os médicos do Programa Estadual de Transplantes alegaram que não havia meio de transporte, além disso, tiveram que pousar em Campos e seguir de carro para Itaperuna, porque o aeroporto local não era adequado para a aeronave que usavam, segundo Iara. Por conta da demora, os familiares informaram que apenas os rins puderam ser doados. Com comoção e revolta, eles lembram que já haviam recebido informação de que um adolescente de 16 anos estava apto a receber o coração de Iuri.
Secretaria não informa motivo da demora
Através de nota, o HSJA informou que Iuri não era o único caso que aguardava para doação dos órgãos. A unidade afirmou que conseguiu os doares, atendeu todas as exigências para a doação inédita no Estado do Rio, de sete de órgãos de dois pacientes. “Infelizmente a Equipe de Captação do Programa Estadual de Transplantes chegou a Itaperuna com 30 horas de atraso, causando transtorno para o Hospital e muito mais para os familiares dos doadores. Somente o Programa Estadual de Transplantes pode esclarecer o motivo do atraso”, finaliza a nota.
Já a assessoria da Secretaria Estadual de Saúde não informou o motivo da demora, alegando apenas que “segue o sigilo determinado pela legislação em relação a receptores e doadores de órgãos”. Sem esclarecer qual aeronave a equipe utilizou como transporte até Campos, a secretaria diz que dispõe, desde dezembro de 2012, de um helicóptero que, entre outras finalidades, atua no transporte das equipes desse programa e que, quando não há condições climáticas para voo visual de helicóptero, o avião da FAB é utilizado. Ainda, a nota da assessoria admite que tempo ideal para captação de órgãos para doação é de 24h, “mas, por transplante requerer, logística complexa, esse período pode ser ampliado”, conclui.
Por: Lohaynne Gregório
Foto: Helen Souza
Fonte: Folha da Manha